Venho refletindo muito ultimamente (e preciso colocar aqui que essa reflexão tem sido feita de maneira sistemática, amparada em bibliografia), acerca do que se pode fazer em termos de pesquisa acadêmica sobre a nossa região. As reflexões que postei anteriormente acerca do patrimônio histórico-cultural taubateno fazem parte desse processo. Preciso ressaltar, também, que tenho me amparado, numa perspectiva mais empírica, na observação da atuação de um grupo de professores e pesquisadores de Taubaté, reunidos no Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Práxis Contemporânea (NIPPC) da Universidade de Taubaté. Desenvolvi algumas pesquisas que versavam sobre aspectos históricos de Taubaté e, mais especificamente, sobre a educação em Taubaté e pude observar a conformação de um setor da sociedade envolvido na modernização da cidade (intectual e urbana, também), ocupando espaços públicos de formulação de políticas e debate de ideias. Essa atuação, porém, se deu dentro dos marcos institucionais e a partir de uma compreensão de mundo hegemônica. Isso quer dizer: as propostas desses homens acabavam por ditar as regras da sociedade local, o sentido em que ela deveria caminhar.
Acontece que as pesquisas que abarcam essa temática - que são muitas e, geralmente, bem feitas, entre o pessoal da História - acabam, contudo, deixando de lado aspectos e setores da sociedade que não participam desse circuito hegemônico de ideias e projetos. No caso das minhas pesquisas, cabe a auto-crítica, de que não dão conta de explicar onde estavam as camadas populares de Taubaté nos anos 1920-30, nem de localizar e identificar quais eram suas propostas e projetos. Essa dificuldade talvez se dê, aliás, pelo fato de que as manifestações populares operam em outra modalidade de discurso, inclusive. Enquanto as elites letradas conseguem verbalizar suas propostas dentro de uma perspectiva que é muito mais familiar a nós, inclusive, que frequentamos qualquer meio acadêmico, o povão, que está numa espécie de subsolo social, tem manifestações que operam de maneira mais simbólica e que não se apropriam da linguagem científica, nem muito menos detem os meios (leia-se poder) para apresentar essas ideias à sociedade, à cidade.
O que me parece desafiador e, ao mesmo tempo, instigante, é superar essa dependência do registro hegemônico, do discurso científico e escrito, para uma análise e apreensão dos símbolos e projetos que circulam em outras esferas da sociedade. Tarefa para a História?
Gabriel Ilário Lopes, 24, professor de História da Rede Municipal de Ensino de São José dos Campos-SP.
Bom, nos faz refletir. Cabe lembrar aqui que nós todos somos agentes participantes e constituintes da história, tanto da nossa cidades como dos locais em que passamos.
ResponderExcluirPois é Gabriel. Creio que essa invisibilidade dos projetos populares, que hoje são muitos, decorrem sim da incapacidade de uma elite pensante da cidade em assumir que ela não é a única a produzir cultura, ou conhecimento, ou saber.
ResponderExcluirE mais que isso, até, cabe àqueles que se debruçam sobre os universos populares assumirem que são tradutores desses projetos. Quando muito, bons tradutores, mas não mais que isso.
Hoje, o campo cultural está marcado por fluxos (trânsitos sem sequência) e circuitos (trânsitos entre modelos) de projetos que se sobrepõem, de modo que a concepção de hegemonia só serve mesmo para traduzir essa dominação autoritária sobre a legitimidade das coisas.
Que essas reflexões acendam pavios que, por sua vez, explodam as acomodações locais.
A realidade e o mundo são bem maiores, e problemáticas, do que alguns segmentos pensantes de Taubaté são capazes de supor. Mas, os sujeitos das camadas populares já sabem disso há muito tempo, e seus projetos refletem o pleno sentido dessas escalas de ação.
abraço