Um dos textos mais emocionantes que li até hoje de um historiador explicando suas razões para optar pela História é esse. No capítulo 1, Le Goff demonstra qual foi, para ele, o papel da História e as razões para se tornar medievalista. Se, como define Hobsbawn, o papel social da História é o uso que damos à História a partir de nosso presente, esse trecho serve para pensar e repensar nossa prática...
"A Idade Média certamente não me trooxe soluções para o tempo presente. Em compensação, ela trabalhou em mim tanto quanto eu trabalhei nela - e trabalhou em mim como homem militante tanto no século XX como agora no XXI. Para adaptar a fórmula de Stanislas Fumet, há uma história da Idade Média em minha vida, nas 'dádivas' que a história faz ao historiador. A hsitória me empurrou para a ação. Jamais eu poderia separar minha leitura de Ivanhoé do entusiasmo que suscitava em mim o Front Populaire naquele mesmo ano de 1936. Não me lembro de acontecimento que me tenha provocado o mesmo entusiasmo. A Libertação não me deu essa felicidade, pois não apagava nem a derrota nem a amargura dos anos negros, nem a descoberta do horror. Ah, mas 1936! Robin des Bois de um lado. Do outro as experiências sociais... Compreendi mais tarde que eu transferia minhas emoções (meus problemas, inconscientemente) do presente para o passado, que eu transformava em coisas vivas as coisas do passado. A Idade Média só me conquistou por seu poder quase mágico de me transportar para um ambiente novo, de me arrancar das inquietações e das mediocridades do presente e, ao mesmo tempo, de tornar o presente para mim mais ardente e mais claro."
Ainda que eu esteja longe (muito longe) de um Le Goff, acho que ter uma referência como essa já é um bom começo...
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